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22 de dezembro de 2009

Pra refletir!

Infância e sabedoria
Hoje vi uma senhora caminhando na rua. Ia com
seu passo vagaroso, um pouquinho curvada, os cabelos
brancos como que coroando a cabeça pequena.
Diminuí o ritmo de meus passos para poder
observá-la um pouco mais por trás, aquela figura frágil,
e que contrastava com a “modernidade” e a agitação de
tudo à volta.
À medida que ia ultrapassando aquela senhora,
tomando cuidado para manter distância suficiente para
observá-la, fui ficando cada vez mais encantado. Seu
semblante era absolutamente sereno. O olhar firme no
horizonte e o princípio de sorriso nos lábios me instigaram
ainda mais, a ponto de eu indelicadamente permanecer
olhando.
Percebendo meu interesse, ela se voltou para mim
e me fitou com seus olhos claros e profundos. Então
sorriu de verdade, um sorriso luminoso, contagiante.
Sem saber o que fazer, disse “bom dia”, no que
fui prontamente correspondido pela senhora, que imediatamente
voltou a mirar seu caminho e a segui-lo, firme e
já não tão forte assim, mas com a segurança de quem
sabe de onde veio e para onde vai, com toda a experiência
dos anos a apoiá-la.
Fiquei a imaginar a vida daquela mulher, todas as
suas lutas e experiências passadas, tudo o que tinha
vivenciado para chegar ali, passando dos 80 anos, segura
e confiante, rumo ao caminho que se lhe abria à
frente.
Foi então que, meio sem saber por qual razão,
me lembrei das crianças. Ou melhor, da importância e
da necessidade de ser criança. Daí a recordar o texto
denominado “Tudo o que eu precisava saber eu aprendi
no jardim da infância”, do escritor Robert Fulghum, foi
um instante. Não conheço mais nada desse autor, apenas
o texto do qual me lembrei. Mas é um texto que me
enternece porque boa parte do que verdadeiramente
importa na vida está ali, nos anos mais tenros de nossas
vidas. Sempre esteve; a gente é que não percebe.
Eis o texto. Vale a pena lê-lo:
“A maior parte do que eu realmente precisava
saber sobre viver e o que fazer e como ser, eu aprendi
no jardim da infância. Na verdade, a sabedoria não está
lá no alto morro da faculdade, mas sim bem ali, na caixa
de areia da escolinha.
As coisas que aprendi foram estas: reparta as
coisas, jogue limpo, não bata nos outros, ponha as coisas
de volta onde as encontrou, limpe a bagunça que
você fez, não pegue coisas que não são suas, diga que
você sente muito quando machucou alguém, lave as
mãos antes de comer, puxe a descarga, biscoitos e
leite quentinho fazem bem.
Viva uma vida equilibrada: aprenda um pouco,
pense um pouco, desenhe e pinte e cante e dance e
brinque e trabalhe um pouco todos os dias.
Tire um cochilo todas as tardes. Quando você
sair por aí, preste atenção no trânsito e caminhe, de
mãos dadas, junto com os outros.
Observe os milagres acontecerem ao seu redor.
Lembre-se do feijãozinho no algodão molhado, no
copinho plástico. As raízes crescem para baixo e ninguém
sabe como ou por quê, mas todos somos assim.
Peixinhos dourados e porquinhos da Índia e ratinhos
brancos e mesmo o feijãozinho do copinho plástico
—todos morrem. Nós também. E lembre-se do livro
do Joãozinho e Maria e da primeira palavra que você
aprendeu, sem perceber.
A maior palavra de todas: OLHE !!!!! Tudo o que
você precisa mesmo saber está aí, em algum lugar. As
regras básicas do convívio humano, o amor, os princípios
de higiene; ecologia, política e saúde. Pense como o
mundo seria melhor se todos, todo mundo, na hora do
lanche tomasse um copo de leite com biscoitos e depois
pegasse o seu cobertorzinho e tirasse uma soneca.
Ou se tivéssemos uma regra básica, na nossa
nação e em todas as nações, de pôr as coisas de volta
nos lugares onde as encontramos e de limpar a nossa
própria bagunça.
E será sempre verdade, não importa quantos anos
você tenha, se você sair por aí, pelo mundo afora, o
melhor mesmo é poder dar as mãos aos outros, e caminhar
sempre juntos.”

CAVERSAN, LUIZ.
Disponível em: www.folha.uol.com.br Acesso em 23 jan.2008.

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