“Enquanto outras crianças comiam doces no café da manhã, eu tinha que
engolir copo de leite. Enquanto ou outros bebiam refrigerante o dia todo, minha
mãe dizia: “Água ou limonada são mais saudáveis”.
Ela insistia em saber
onde eu estava o tempo todo. Dá até para pensar que eu era o seu pequeno
escravo. Ela fazia questão de ficar a par de tudo o que eu fazia e de quem eram
os meus amigos. Confesso envergonhado de que às vezes até levava umas palmadas.
Imaginem só.Bater numa criança só porque ela respondeu mal ou desobedeceu.Minha
mãe ousou quebrar a Lei de Proteção ao Menor. Verdade. Ela me fazia trabalhar.
Eu era obrigado a lavar louça, arrumar minha cama e guardar minhas roupas,
enfim..., todas essas coisas horríveis que fazem parte do “trabalho doméstico”.
Ela insistia em que eu
devia falar sempre a verdade e nada mais do que a verdade. E dizia: “Uma
mentira leva a outra e é cada vez mais difícil voltar à verdade”.
Ela sempre me obrigada
a fazer a lição de casa antes de brincar e eu só tinha permissão para assistir
a determinados programas de televisão que ela mesma escolhia. E tudo isso sem
mencionar que eu tinha que dormir cedo. Sempre eu tinha aquela sensação de que
minha mãe era a mais chata do mundo. Podia eu fingir que estava doente e ficar
na cama num dia de chuva e faltar à aula?Jamais. E ainda mais, exigia de mim
boas notas na escola. Inadmissível um vermelho no boletim. Às sextas-feiras à
noite, tínhamos reunião de família (que chatice), enquanto meus amigos iam ao cinema
e organizavam festinhas.
Quando adolescentes
poucas coisas mudaram. Enquanto meus amigos ganhavam mesadas dos pais, eu era
obrigado a prestar contas de todos os meus gastos. E sempre com minha mãe
atrás, consegui completar (e com que esforço) o colegial. E em seguida, a
faculdade. Mamãe jamais me perdia de vista, vigiando-me para que eu sempre
enfrentasse a realidade, sem jamais poder me esquivar de alguma situação mais
difícil; e, é claro, sempre, exigindo que eu falasse unicamente a verdade.
Mamãe obrigou-me a crescer como adulto honesto e educado, temente a Deus e com
um amor que só hoje posso compreender.
A mãe mais chata do
mundo é a pessoa que tornou o homem que
sou hoje. E agora, quando vejo muitos dos meus amigos que obtinham tudo sem
qualquer esforço,com uma mãe bacana “demais” – então eu entendo e dou mais
valor a minha mãe. Ela me ensinou a dar o verdadeiro valor às coisas, com ela
aprendi a pensar não somente em mim, mas também na família e nos amigos, a
lutar com empenho pelos meus ideais e a dizer sempre somente a verdade. Agora
quando meus filhos chamam a mim e minha esposa de chatos, pelas mesmas razões,
fico tranqüilo e tenho a certeza de que algum dia eles compreenderão,porque são
o que há de melhor em nossas vidas”.
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